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Perspectivas

O massacre de Trump no Caribe: Um crime descarado do imperialismo dos EUA

Publicado originalmente em inglês em 4 de setembro de 2025

O governo Trump lançou um ataque aéreo na terça-feira contra uma pequena embarcação no sul do Caribe sob o pretexto de que ela estava transportando drogas e supostos membros da organização criminosa venezuelana Tren de Aragua. A Casa Branca e o Pentágono se vangloriaram de ter matado 11 pessoas no ataque, demonstrando um aprofundamento do uso de assassinatos ilegais em massa na busca de interesses imperialistas externamente e para justificar uma ditadura doméstica.

Momento em que uma embarcação com 11 pessoas foi atingida por um míssil dos EUA no sul do Caribe. [Photo by Donald Trump/Truth Social]

A Casa Branca imediatamente alardeou o massacre em suas páginas oficiais nas redes sociais, divulgando um vídeo aéreo do barco sendo explodido.

O Secretário de Defesa Pete Hegseth advertiu na quarta-feira que isso faz parte de uma escalada em marcha. “Temos ativos no ar, ativos na água, ativos em navios, porque esta é uma missão extremamente séria para nós, e não vai, não vai parar apenas com este ataque”, disse à Fox News. Falando com repórteres na Casa Branca, Trump ameaçou: “E há mais por vir”.

O ataque ocorre em meio ao envio crescente de uma armada americana para os arredores da costa venezuelana, incluindo pelo menos oito navios de guerra, aeronaves e 5 mil marinheiros e fuzileiros navais. Trump referiu-se a todo o governo venezuelano como um cartel “narcoterrorista”, dobrando a recompensa pela cabeça do presidente Nicolás Maduro para US$ 50 milhões.

Em uma postagem nas redes sociais se vangloriando do ataque, Trump afirmou que a Tren de Aragua está “operando sob o controle de Nicolás Maduro” e é responsável por “atos de violência e terrorismo em todo os Estados Unidos e no Hemisfério Ocidental”.

Isso é absurdo. Não apenas os Estados Unidos representam o maior mercado de drogas do mundo, mas há tempos que o Estado americano é a principal fonte de violência e terror em toda a América Latina e no Caribe, através de inúmeras invasões militares, golpes orquestrados pela CIA e ditaduras fascistas-militares. De acordo com todas as reportagens de inteligência confiáveis, a Venezuela representa uma parte insignificante das drogas que fluem para o norte a partir da América Latina. Quanto à Tren de Aragua, a organização praticamente deixou de existir, mesmo na Venezuela. Nos EUA, não houve uma única condenação por por homicídio de um suposto membro da organização.

Nesse contexto, o ataque foi, antes de tudo, um ato de agressão imperialista como parte dos esforços de longa data para incitar um golpe ou guerra civil na Venezuela. O objetivo é provocar divisões dentro das forças de segurança do país para instalar um regime fantoche dos EUA e controlar as reservas de petróleo venezuelanas, as maiores do mundo.

O World Socialist Web Site condena veementemente este ato criminoso de agressão imperialista. Apesar das informações limitadas atualmente disponíveis, pode-se afirmar inequivocamente que este foi um ato injustificável de assassinato em massa em violação da lei dos EUA e da lei internacional, contra pessoas que não foram condenadas por nenhum crime.

Embora o Pentágono não tenha apresentado evidências de irregularidades, Trump evitou perguntas na quarta-feira sobre por que o barco não foi interceptado e seus ocupantes presos, desviando da questão com referências a “massivas quantidades de drogas entrando em nosso país para matar muitas pessoas, e todos entendem isso perfeitamente”.

Retratar esta pequena embarcação como um instrumento de “narcoterrorismo” é uma justificativa pseudolegal para um crime de guerra hediondo, além de um completo absurdo. Qualquer operação legítima de interdição de drogas teria envolvido parar e revistar o barco e, caso estivesse transportando narcóticos, a confiscação deles. Além disso, não é necessário 11 pessoas para transportar drogas; é muito mais provável que os passageiros fossem pescadores ou migrantes.

O uso de uma aeronave de Operações Especiais e mísseis avançados para explodir um pequeno barco, como reconhecido por oficiais dos EUA, foi totalmente desproporcional.

O timing, além disso, demonstra claramente a conexão entre a ameaça do governo Trump de abrir uma frente na América Latina da Terceira Guerra Mundial em ascensão e seu golpe em andamento para estabelecer uma ditadura policial-militar nos próprios Estados Unidos.

Mais cedo na terça-feira, um tribunal federal americano rejeitou a tentativa de Trump de usar a Lei de Inimigos Estrangeiros para deportar imigrantes venezuelanos, decidindo que não havia evidência válida de uma “invasão ou incursão predatória” por uma entidade estrangeira, como exigido para a invocação da lei.

O tribunal determinou que a alegação do governo ligando imigrantes à organização Tren de Aragua não constituía uma condição de guerra que justificasse uma autoridade executiva irrestrita simplesmente ao invocar poderes de emergência, dado as restrições constitucionais. A decisão, por si só, afirma que o ato de guerra contra a alegada embarcação da Tren de Aragua foi inconstitucional.

Significativamente, uma longa opinião divergente redigida por um juiz indicado por Trump argumentou que o presidente deveria ter poderes irrestritos para conduzir uma guerra e que sua declaração de uma “incursão predatória” – e, consequentemente, qualquer invenção do presidente – deveria ser tomada como “conclusiva”.

O ataque da Marinha dos EUA à embarcação caribenha passou uma mensagem clara: os Estados Unidos são uma nação em guerra, e o presidente pretende reivindicar poderes ditatoriais para travar uma guerra e travará uma guerra para reivindicar poderes ditatoriais.

Essa busca sanguinária pelos interesses dos bancos e corporações dos EUA é um aviso da disposição da Casa Branca – e do Pentágono – a recorrer aos mesmos métodos de assassinato em massa empregados sob o pretexto de uma “guerra contra o terrorismo” no Oriente Médio – do Afeganistão e Iraque, até o genocídio em curso em Gaza – contra qualquer grupo, interno ou estrangeiro, que seja percebido como uma ameaça à disputa dos EUA pela hegemonia global, incluindo na região que o imperialismo dos EUA há muito considera como seu “quintal”.

O Secretário de Estado, Rubio, reconheceu isso na terça-feira, quando disse: “O presidente tem clareza de que usará todo o poder da América, toda a força dos Estados Unidos, para enfrentar e erradicar esses cartéis de drogas, não importa de onde estejam operando”.

Apenas algumas horas depois de se vangloriar do ataque à alegada embarcação venezuelana, Trump escreveu sarcasticamente ao presidente chinês Xi Jinping para enviar seus “cumprimentos mais calorosos a Vladimir Putin e Kim Jong Un, enquanto vocês conspiram contra os Estados Unidos da América”. Os chefes de Estado da Rússia e da Coreia do Norte participaram de um grande desfile militar na China para comemorar os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.

O uso da força militar sob Trump para conter o crescimento da influência econômica e política da China nas bordas do imperialismo dos EUA é um corolário estratégico do “pivô para a Ásia” voltado contra a China, iniciado sob o governo Obama em 2011. A China se tornou o principal parceiro comercial da América do Sul, enquanto seu comércio total com a América Latina como um todo cresceu quase 30 vezes nos últimos 25 anos.

Como um artigo da Foreign Affairs em dezembro colocou, “A América Latina está prestes a se tornar uma prioridade para a política externa dos EUA”. No artigo, o analista Brian Winter explicou:

Trump e sua equipe podem guardar sua energia para o que consideram a ameaça maior: a China. … Ninguém na equipe de Trump acredita que o novo governo pode convencer os países da América Latina a virarem as costas para Pequim completamente, mas os oficiais planejam ser mais agressivos em tentar manter os chineses afastados dos ativos civis e militares mais sensíveis da região, que consideram uma questão de segurança nacional.

O uso de um sistema de mísseis avançados para obliterar um pequeno barco e assassinar 11 pessoas no sul do Caribe, juntamente com o envio de uma armada naval capaz de lançar mísseis de cruzeiro Tomahawk sobre Caracas e desembarcar fuzileiros navais na costa venezuelana, andam de mãos dadas com as tarifas de 50% impostas à maior economia da região, o Brasil, as ameaças de bombardear e até invadir o México e outras provocações na região.

Por sua vez, o governo venezuelano respondeu afirmando que Rubio criou o vídeo do ataque aéreo utilizando Inteligência Artificial para impressionar Trump e instigá-lo a apoiar mais agressões. Essa tentativa de revelar divisões internas em Washington e apelar para o “bom senso” do fascista que está à frente do Estado imperialista dos EUA, como Maduro fez repetidamente, expõe o fracasso do nacionalismo burguês de opor-se à opressão imperialista.

A ofensiva contra a América Latina, a emergente guerra mundial e a ameaça de uma ditadura fascista no próprio Estados Unidos só pode ser interrompida por um movimento unificado da classe trabalhadora no continente americano e em todo o mundo, para acabar com o sistema capitalista de Estados nacionais e reorganizar a sociedade com base no socialismo.

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