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“A luta contra os acidentes de trabalho nos EUA e na América Latina requer a unificação dos trabalhadores através das fronteiras nacionais”

Estamos publicando a seguir a declaração de Eduardo Parati, membro do Grupo Socialista pela Igualdade (GSI) no Brasil, na audiência pública de 27 de julho sobre a investigação da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB) a respeito da morte do trabalhador da Stellantis Ronald Adams Sr.

Adams, um trabalhador experiente de 63 anos, foi esmagado por um pórtico elevado no complexo de motores de Dundee, no estado de Michigan, em 7 de abril, sob circunstâncias que ainda não foram explicadas pela empresa, pelo Sindicato dos Trabalhadores Automotivos (United Auto Workers) ou pela Administração de Segurança e Saúde Ocupacional de Michigan (MIOSHA).

A audiência teve a participação de 100 trabalhadores, jovens e membros da comunidade. Ela contou com os discursos de Shamenia Stewart-Adams, viúva de Adams, e de David North, presidente do Conselho Editorial Internacional do WSWS e presidente nacional do Partido Socialista pela Igualdade (EUA), além de contundentes informes de Will Lehman, trabalhador da Mack Trucks e membro da AOI-CB, de Jerry White, repórter das lutas operárias do WSWS, e de trabalhadores da indústria automotiva e de base dos EUA.

Declarações internacionais de solidariedade à investigação também foram enviadas da Turquia, Austrália, México, Sri Lanka e Nova Zelândia.

Participantes aprovando por unanimidade uma resolução na investigação da AOI-CB sobre a morte de Ronald Adams, Sr., em 27 de julho de 2025. [Photo: WSWS]

A reunião adotou por unanimidade uma resolução para continuar e expandir a investigação, estabelecer comitês de segurança de base e construir uma campanha internacional para defender as vidas e os direitos dos trabalhadores.

Para se envolver na investigação ou para informar sobre mortes e acidentes de trabalho, clique aqui.

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Eu sou Eduardo Parati, membro do Grupo Socialista pela Igualdade (GSI) no Brasil, e envio saudações a esta reunião de trabalhadores como forma de expressão da crescente oposição ativa à situação atual nos Estados Unidos. Milhões de trabalhadores são obrigados todos os dias a trabalhar em ambientes perigosos apenas para sobreviver.

Trabalhadores da Mercedes-Benz em assembleia em 8 de setembro de 2022. [Photo: Adonis Guerra/SMABC/FotosPublicas]

Décadas de cortes favorecendo conselhos corporativos gananciosos resultaram em uma deterioração das condições de trabalho em todos os lugares. Os trabalhadores nos Estados Unidos e na América Latina são levados ao limite em nome do lucro corporativo e, assim como no caso de Ronald Adams Sr., são forçados a arriscar suas vidas para cumprir os prazos das empresas.

Nas semanas que antecederam as festas mundialmente famosas de Carnaval no Brasil, os trabalhadores do Rio de Janeiro foram obrigados a trabalhar sem parar na produção de fantasias em fábricas e depósitos. Dezenas dormiram dentro da fábrica para evitar o custo das passagens de ônibus extras e cumprir o prazo. Em 12 de fevereiro, um incêndio começou nas primeiras horas da manhã, causando uma morte e dezenas de feridos. Mas, apesar das condenações retóricas do governador do estado, as condições que permitiram que essa tragédia acontecesse foram completamente ignoradas.

Tais condições se repetem em toda a América Latina. O estado mais populoso do Brasil, São Paulo, registrou em 2023 o maior número de acidentes de trabalho desde o início dos registros, em 2012. Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho mostram 31.981 mortes no trabalho no Brasil entre 2012 e 2024, ou uma morte a cada três horas e meia. O observatório aponta mais de um acidente de trabalho por minuto em todo o país.

Segundo o Conselho Colombiano de Segurança, uma organização sem fins lucrativos, ocorreram mais de 520 mil acidentes de trabalho e 408 mortes na Colômbia em 2024. Em 2023, foram registrados 423 acidentes com afastamento por licença médica para cada 100 mil trabalhadores no Equador, muito acima da taxa pré-pandemia. A Superintendência de Riscos Ocupacionais da Argentina notificou 37 incidentes fatais por milhão de trabalhadores em 2023, acima dos 35,3 registrados em 2019. 

Assim como nos EUA, existe uma enorme oposição entre os trabalhadores às políticas de corte de custos e exploração cada vez mais intensa. Mas fazer justiça em relação a esses crimes sociais é impossível sem uma compreensão correta das suas causas fundamentais. A devastação social nos EUA é causada pela crise do sistema capitalista em todos os lugares e uma solução nacional é impossível.

A ofensiva tarifária de Donald Trump visa manter a posição dominante da classe dominante dos EUA nos assuntos mundiais por meio de ameaças diplomáticas, econômicas e, cada vez mais, militares. Enquanto isso, no Brasil, o presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores, de falsa esquerda, está promovendo o nacionalismo econômico com o apoio integral do aparato sindical.

Em março, Lula participou com vários ministros do lançamento de um centro da Stellantis para o desenvolvimento de veículos híbridos em Betim, no estado de Minas Gerais. Enquanto Lula agradecia à empresa por investir no Brasil, o líder do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim na fábrica afirmou que “tivemos um crescimento de 3,4% do PIB, maior do que os Estados Unidos, a Alemanha, a França, acredito que maior do que todos os países do G7”.

Lula e os sindicatos estão unidos na repressão à oposição dos trabalhadores. Os investimentos que estão sendo feitos pela Stellantis são possíveis apenas porque a empresa multinacional conseguiu impor grandes cortes com a ajuda crucial do UAW nos Estados Unidos.

Na realidade, na economia globalizada de hoje, as políticas nacionais defendidas pelos sindicatos só podem dividir os trabalhadores e permitir novos ataques das administrações corporativas e do Estado contra os direitos dos trabalhadores. Agora, Lula está promovendo uma campanha chauvinista para reprimir a oposição social e fazer os trabalhadores pagarem pelo impacto econômico das tarifas de Trump.

Portanto, os trabalhadores no Brasil e nos EUA – e, na verdade, de todo o continente americano – devem se unir em uma luta além das fronteiras nacionais para proteger até mesmo seus interesses mais básicos. Enquanto a classe capitalista permanecer no poder, os trabalhadores serão inevitavelmente colocados em situações cada vez mais perigosas em nome do lucro. Nós nos unimos ao apelo pela formação de comitês de base para organizar uma oposição unificada às políticas de todos os políticos capitalistas, que colocam os lucros acima da vida dos trabalhadores.

Somente a classe trabalhadora internacional é capaz de pôr fim ao ciclo interminável de mortes evitáveis no local de trabalho.

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