Publicado originalmente em inglês em 10 de julho de 2025
A edição deste ano do evento “Marxismo: Um Festival de Ideias Socialistas”, organizado pelo Partido Socialista dos Trabalhadores (SWP, na sigla em inglês), em Londres, concentrou-se em promover o recente anúncio dos apoiadores de Jeremy Corbyn de um novo partido de esquerda para desafiar o Partido Trabalhista.
A mesa do festival na hora do almoço no sábado — “A hora do partido: Que tipo de esquerda precisamos?” — viu centenas de membros do SWP se comportarem como um clube de fãs, saudando a chegada de Corbyn ao palco com gritos de “Oh, Jeremy Corbyn!” e ao som da música “Seven Nation Army”, da banda The White Stripes.

Lewis Nielsen, secretário nacional do SWP, elogiou o anúncio da deputada independente (ex-trabalhista) Zarah Sultana, feito dois dias antes, de que ela co-lideraria um novo partido com Corbyn. Descrevendo isso como “o tiro de partida” para uma mobilização em massa, Nielsen declarou: “O gênio está fora da garrafa”.
Ao som dos aplausos e gritos, ele afirmou: “Milhões de pessoas no país estão prontas para responder ao chamado para lutar. Todos nesta sala podem fazer parte para liderar este chamado e liderar uma luta que diz que amanhã será melhor do que hoje. Vamos derrotar a extrema direita. Vamos parar os cortes que afetam a classe trabalhadora. Vamos nos posicionar pela Palestina, e vamos construir um mundo diferente.”
Corbyn parecia visivelmente um homem sob enorme pressão. Ele evitou qualquer menção ao novo partido e não fez referência ao anúncio de Sultana. No dia anterior, ele havia postado no X: “As fundações democráticas de um novo tipo de partido político logo tomarão forma”, acrescentando que “as discussões estão em andamento”.
Já se passou quase uma década desde que Corbyn foi catapultado para a liderança do Partido Trabalhista com um grande mandato para combater a ala Blairista do partido. Em vez disso, ele bateu em retirada constante, capitulando à direita em todos os aspectos fundamentais: adesão à OTAN, manutenção das armas nucleares Trident, insistência para que os vereadores do Partido Trabalhista apliquem os cortes do Partido Conservador e recusa em contestar a expulsão em massa de seus apoiadores, caluniados como “antissemitas”.
O objetivo de Corbyn era bloquear o movimento à esquerda da classe trabalhadora e da juventude, reunindo-os em torno do Partido Trabalhista. Em 2015, ele identificou sua missão como a prevenção da “pasokificação” do Partido Trabalhista — uma referência à implosão do PASOK, o partido socialdemocrata da Grécia, e ao seu eclipsamento pelo Syriza (Coalizão da Esquerda Radical).
“É muito interessante que os partidos socialdemocratas que aceitam a agenda de austeridade e acabam a implementando percam muitos membros e muito apoio”, disse Corbyn ao jornal Mirror, favorável ao Partido Trabalhista, em julho daquele ano. Segundo ele, “acho que temos uma chance de fazer algo diferente aqui”.
Em outras palavras, ele realizaria a “syrizificação” do Partido Trabalhista — sua transformação em um partido de esquerda populista “para muitos, não para poucos”.
Andrew Murray, o stalinista de longa data que mais tarde se tornaria o principal conselheiro político de Corbyn, respondeu em 2013 ao grupo “Left Unity” (União de Esquerda) de Ken Loach, hoje extinto, rejeitando suas alegações de ser um movimento semelhante ao Syriza no Reino Unido. Ele insistiu: “A classe trabalhadora britânica apoiará uma ‘Syriza britânica’ quando considerar o Partido Trabalhista britânico da mesma forma que a classe trabalhadora grega considera o PASOK. Não é onde estamos neste momento.”
É exatamente onde as coisas estão hoje. Existe uma enorme raiva na classe trabalhadora em relação às medidas autoritárias de direita do governo de Keir Starmer, ataques aos pobres e deficientes, apoio ao genocídio e à guerra e à mobilização da polícia contra trabalhadores grevistas. Trabalhadores e jovens estão se afastando do Partido Trabalhista, uma mudança histórica à esquerda que vem assumindo forma há décadas.
Enquanto o partido de extrema direita Reform, liderado por Nigel Farage, ganhou apoio entre eleitores mais velhos descontentes com o Partido Trabalhista e os Tories, a mudança muito mais ampla e poderosa é para a esquerda, contra a imensa concentração de riqueza entre a oligarquia bilionária, contra a guerra e o genocídio e em defesa dos direitos democráticos e sociais da classe trabalhadora.
Isso explica os intensos esforços de setores da burocracia sindical e aliados pseudoesquerdistas, como o SWP, para montar um novo veículo político para restringir trabalhadores e jovens a políticas reformistas e impedir o desenvolvimento de um movimento socialista e revolucionário contra o sistema capitalista.
O próprio Corbyn falou apenas vagamente no sábado sobre “mobilizar as pessoas a fim de provocar mudanças”. A sua relutância em apoiar o novo partido de Sultana está enraizada em um medo bem fundamentado de que qualquer desafio ao domínio do Partido Trabalhista sobre a classe trabalhadora possa escapar ao seu controle. Os principais aliados de Corbyn no Grupo de Campanha Socialista do Partido Trabalhista, Dianne Abbott e John McDonnell, disseram ao Telegraph, favorável aos Tories, que não irão entrar no novo partido.
Andrew Feinstein, o ex-deputado do Congresso Nacional Africano que desafiou Starmer na eleição do ano passado, surgiu como porta-voz público da nova iniciativa do partido. Ele foi supostamente um dos principais responsáveis por orquestrar o anúncio surpresa de Sultana, buscando pressionar Corbyn.
Feinstein disse ao ato do SWP que o “novo partido de movimento” em formação “garantirá que nossos ativistas, nossos movimentos sociais, nossas comunidades sejam representados” em Westminster. Seu objetivo? “Mudar fundamentalmente as estruturas, regras e funcionamento do Parlamento, de nossos conselhos e do Estado, para que todos eles sirvam a muitos e não a poucos.”
Em outras palavras, um partido que subordina a classe trabalhadora ao Estado capitalista, promovendo a ilusão fatal de que ele pode ser capturado e feito para servir aos interesses “do povo”.
“Bem-vindo, Yanis”
O evento “Marxismo 2025” foi um claro aviso sobre o tipo de partido pró-capitalista que o SWP está se preparando para construir. A sua inclusão de Yanis Varoufakis como palestrante principal, em uma sessão intitulada “Combatendo a oligarquia: a relevância de Marx”, foi um exercício de racionalização e encobrimento que só poderia ser tolerado por uma organização enraizada nas camadas mais complacentes da classe média “radical” inglesa.
Varoufakis, ministro das Finanças no governo do Syriza na Grécia em 2015, desempenhou um papel central na imposição das ordens de austeridade da União Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI contra a classe trabalhadora grega. Sua recepção calorosa mostra o que o SWP está se preparando para fazer no Reino Unido.
Varoufakis apareceu via Zoom em conversa com o principal teórico do SWP, Alex Callinicos, que participou de uma sessão lotada na tarde de sábado. O assunto aparente de seu debate era o livro sombrio e arrogante de Varoufakis, Tecnofeudalismo: O que matou o capitalismo.
Sabendo que estava entre amigos, Varoufakis observou, na abertura, que estava para se completar dez anos desde o referendo do governo do Syriza que perguntou ao povo grego se deveria votar “Sim” ou “Não” para a austeridade. Varoufakis disse que o resultado da votação foi “um evento histórico que reverberou. Impactou a esquerda, não de uma boa maneira, como se revelou, mas com a capacidade de permanecer como uma das lições mais valiosas da esquerda que a esquerda marxista, eu acho, poderia ter aprendido”.
Oferecendo uma história resumida do colapso financeiro global de 2008 (“para aqueles de vocês que são jovens demais para lembrar ou se importar”), no qual “o capitalismo cedeu”, Varoufakis recordou como “a parte mais frágil de nosso sistema era a Grécia, o Estado grego”.
O plano da oligarquia europeia era “transformar a Grécia em um laboratório distópico de imensa austeridade… e depois levar esse modelo da Grécia para a Irlanda, para Portugal, para a Espanha, para a Itália. George Osborne cumpriu seu papel em trazer isso até aqui. Eventualmente, chegou até a Alemanha.”
Ele recordou os primeiros dias do Syriza: “Nós costumávamos ter reuniões como esta, você sabe, 100 pessoas, 500 pessoas, 400 pessoas”, e então, de repente, eles foram de “um partido muito pequeno” a 36% dos votos, e “no dia 5 de julho de 2015 [o dia do referendo], isso se tornou 62%”.
“Posso lhes dizer, eu podia ver isso nos olhos daqueles que estavam no poder… pessoas como Christine Lagarde, do Banco Central Europeu, do Banco da Inglaterra, do Federal Reserve [o banco central dos EUA], eu podia ver isso porque, por essa coincidência histórica, eu fui elevado por alguns meses ao cargo de Ministro das Finanças da República. Eles estavam em pânico.”
E então veio sua descrição estarrecedora da noite do referendo, quando os eleitores gregos deram uma retumbante resposta de “Não” à austeridade:
Poucas horas depois, meu camarada, o Primeiro-ministro [Alexis Tsipras], vem até mim… Tivemos uma briga gigantesca. Eu pedi demissão… Eu não quero entediá-los com isso. Aqueles que se lembram, lembram. Aqueles que não se lembram, bem, vocês podem pesquisar. Este foi um episódio interessante. Foi completamente não planejado, espontâneo, um pequeno partido que fez algumas reivindicações radicais e fez algumas promessas radicais à população em um momento particular da história, conseguiu obter um mandato esmagador para essencialmente, uma revolução. Foi nossa própria fraqueza que a traiu. Essa é uma lição muito grande para aqueles de nós à esquerda. Camaradas, o inimigo, quando nos ataca, virá de dentro de nosso meio.
Aqui, Varoufakis retrata o Syriza (e a si mesmo) como vítima infeliz do giro inesperado de Tsipras para as forças da reação. A renúncia de Varoufakis como ministro das Finanças é apresentada sob uma luz nobre, um ato de consciência contra os planos do Syriza de trair a vontade do povo grego e impor o programa devastador da UE.
Mas nem a traição do Syriza, nem a de Tsipras e Varoufakis, foram acidentais ou imprevistas. O Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) traçou o caminho da traição do Syriza em centenas de artigos, informes in loco e declarações políticas, buscando mobilizar a classe trabalhadora grega contra essa armadilha política podre.
Como ministro das Finanças do governo do Syriza, eleito em 25 de janeiro de 2015, Varoufakis atuou desde o início como um servo leal da Troika UE-BCE-FMI. Em fevereiro, apenas algumas semanas após assumir o cargo, ele assinou um acordo com a UE para prorrogar seu primeiro programa de austeridade na Grécia.
Em 11 de fevereiro, antes de sua reunião com os ministros das Finanças da UE, Varoufakis foi caloroso em seu elogio à chanceler alemã Angela Merkel e ao seu ministro das Finanças Wolfgang Schäuble (um “político de substância intelectual”). Ele mais tarde descreveu suas próprias propostas aos banqueiros europeus como “padrões thatcheristas ou reaganistas”.
Assim como Tsipras, Varoufakis esperava plenamente um voto “Sim”. Com uma arma apontada para suas cabeças, o povo grego enfrentava um chantagem econômica de escala gigantesca, com a UE ameaçando colapsar a economia se seus protocolos de austeridade fossem rejeitados. Uma fuga de capitais negava a milhões de gregos comuns o acesso aos seus salários e economias pessoais. O Syriza não tomou nenhuma ação para proteger a população, excluindo a nacionalização ou quaisquer medidas para bloquear a retirada de capital, opondo-se a qualquer ameaça à riqueza da oligarquia e dos investidores ricos da Grécia.
Na formulação tortuosa do referendo do Syriza, os gregos foram questionados se aceitavam ou rejeitavam a proposta de dois pontos da Troika intitulada “Reformas para a conclusão do programa atual e além” e “Análise preliminar da sustentabilidade da dívida”. A rejeição do povo foi esmagadora — seguida por uma traição de magnitude histórica.
“Yanis, é ótimo estar falando com você”, começou Callinicos na sessão do SWP. Ele continuou: “Você nos lembrou de um dia histórico, o dia histórico do referendo grego exatamente 10 anos atrás, que para mim, assim como para você e para muitos, muitos ativistas socialistas e da classe trabalhadora e anticapitalistas ao redor do mundo, foi realmente um grande momento, um momento que deu uma visão de como existe uma alternativa ao que era então a versão dominante do capitalismo, o neoliberalismo, que outro mundo baseado em solidariedade, democracia e liberdade era realmente possível, mesmo que essa visão tenha durado muito pouco tempo, infelizmente, pelas razões que Yanis mencionou.”
O apoio de Callinicos às “razões” oferecidas por “Yanis” não é surpresa. A teoria de um golpe inesperado nas costas por Tsipras oculta o papel proeminente do SWP em conceder credenciais socialistas e revolucionárias ao que era, desde sua origem em 2004, uma aliança eleitoral podre e pró-capitalista.
Durante a sessão de perguntas e respostas que se seguiu, um membro do SWP na plateia desafiou de forma cortês Varoufakis. “Eu amo o Yanis”, garantiu aos presentes, mas por que uma “pessoa de tão altos princípios como você”, que “nos deu tanta esperança”, não ficou e lutou? Em vez de renunciar, “você poderia ter permanecido um pouco mais e lutado contra todos esses bancos e empresas tecnológicas injustos?”
Sua pergunta provocou alguma apreensão, mas Callinicos, que teve o primeiro direito de resposta, recusou-se a reconhecer, quanto mais responder à questão. A Varoufakis foi oferecido um espaço seguro para montar sua própria defesa ousada: “Dizer não e renunciar, quando a alternativa é ser corrupto e desertar para o lado oposto, é um ato revolucionário”, declarou.
Apresentando uma escolha binária entre duas formas de capitulação, Varoufakis omitiu uma terceira opção, uma apresentada diretamente pelo resultado do referendo: mobilizar a classe trabalhadora grega na luta contra os ditames de austeridade da UE — uma luta que reverberaria por toda a Europa.
Em novembro de 2015, o CIQI emitiu uma declaração, “As lições políticas da traição do Syriza na Grécia”, que deve ser estudada cuidadosamente por cada trabalhador e jovem. Submetendo os eventos na Grécia — “uma imensa experiência estratégica para a classe trabalhadora” — a uma avaliação marxista, o documento é uma preparação crítica para os eventos explosivos agora em andamento no Reino Unido.
Sobre a traição do Syriza, o CIQI escreveu:
As massas estão sendo levadas a encarar a corrupção e a traição de partidos políticos que lideraram os movimentos de protesto e o que se passou por política de esquerda durante um período histórico inteiro. Seguindo as teorias pós-modernas de acadêmicos como Ernesto Laclau, essas organizações declararam que estávamos vivendo uma época “pós-marxista”. Baseadas em setores privilegiados da classe média, insistiram que a classe trabalhadora não era mais uma força revolucionária, mas tinha sido substituída por um grande número de setores da sociedade definidos através de identidades nacionais, étnicas, de gênero e de estilo de vida.
Ao longo de décadas, esses partidos declararam-se radicais e anticapitalistas, quando, na verdade, não eram. Sua primeira experiência no governo expôs suas pretensões como uma fraude, encobrindo políticas pró-capitalistas com o objetivo de satisfazer os interesses dos 10% do topo da pirâmide social à custa dos trabalhadores.
Não a outro Syriza!
Em 2015, o SWP era um torcedor aberto do Syriza. Em 31 de janeiro, o Socialist Worker saudou a vitória eleitoral do Syriza com uma manchete de capa, “À medida que a Grécia rejeita a austeridade, PODEMOS FAZER ISSO AQUI”, e uma matéria na página 2, “A vitória do Syriza significa que a esperança chegou à Grécia”. Escrevendo sobre “jubilo nas ruas”, o SWP, juntamente com seus co-irmãos gregos da ANTARSYA (Antikapitalistiki Aristeri Synergasia gia tin Anatropi), reuniu as seções mais militantes e criticamente conscientes de trabalhadores, jovens e estudantes em torno de um governo pró-capitalista.
Notando a pressão sobre Tsipras para “ceder”, o SWP escreveu: “A questão-chave agora é saber se o Syriza vai se opor aos banqueiros e credores”. O papel colocado sobre a classe trabalhadora foi o de um grupo de pressão, com o SWP defendendo “greves, mobilizações em massa, ocupações e democracia de baixo para cima que podem ir além do que o Syriza oferece”. Essa promoção da espontaneidade, uma marca registrada da política do SWP, serviu para bloquear qualquer compreensão da perspectiva reformista e pró-imperialista do Syriza de extrair concessões da troika, deixando a classe trabalhadora despreparada para o que se seguiu.
Dez anos depois, o SWP apressou-se com os mesmos argumentos para promover um novo partido de esquerda que eles esperam que Corbyn lidere. Falando ao lado de Corbyn na sessão anterior, Nielsen declarou: “Quando eles jogam tudo contra nós, precisamos de uma força que não vai se comprometer, que não vai recuar. Precisamos de uma força que mobilizará o movimento. Pessoas da classe trabalhadora, o movimento palestino, o movimento antirracista, vamos nos enraizar nesse movimento. Portanto, quando eles virem contra nós, em vez de cancelar esse movimento, chamaremos esse movimento para nos defender. Esse é o tipo de partido que precisamos. Portanto, precisamos de uma aliança, uma rede, um guarda-chuva.”
Um partido ou guarda-chuva (!) liderado por Corbyn e seus colegas pode ser pressionado debaixo para cima para lutar, insiste o SWP. Mas lutar por quê?
O novo partido imaginado pelo SWP não é nem mesmo identificado com medidas socialistas. Falando no sábado ao lado de Corbyn, Michael Lavalette, um membro de longa data do SWP e de seu desdobramento Counterfire, impôs apenas três condições ao novo movimento: 1) “ele deve estar enraizado nas comunidades marginalizadas e na classe trabalhadora”; 2) seus vereadores e deputados devem servir como “o megafone dos movimentos e sindicatos em nossas comunidades”; e 3) “Nunca devemos estar em uma posição em que qualquer deputado deste novo partido peça às forças armadas para quebrar greves como elas fizeram em Birmingham”(!)
Essa foi a referência diplomática de Lavalette ao deputado Ayoub Khan, membro da Aliança Independente de Corbyn, que pediu à vice-primeira-ministra Angela Rayner que mobilizasse o exército para ajudar a quebrar a greve dos lixeiros de Birmingham.
Existe uma conexão direta entre a recusa do SWP em especificar por quais medidas socialistas um novo partido de esquerda deve lutar e sua discussão amigável com Varoufakis sobre “tecnofeudalismo”. Seu livro argumenta que o capitalismo foi substituído por um sistema de aluguel baseado em nuvem que “demoliu os dois pilares do capitalismo: mercados e lucros”. Esses “simplesmente não estão mais no comando”. Os capitalistas tradicionais, que empregam mão de obra assalariada, se tornaram “vassalos” de uma nova classe de senhores feudais. “Quanto ao resto de nós, retornamos ao nosso status anterior de servos.”
A humanidade foi dominada por “uma forma de feudalismo tecnologicamente avançada”, que “certamente não é o que esperávamos que substituísse o capitalismo”. O proletariado tradicional, analisado por Marx, está sendo substituído por “proles das nuvens” e “servos das nuvens”. Segundo ele, “Não temos mais capital de um lado e trabalho do outro”, e que a teoria de Marx sobre o proletariado criando o socialismo “era uma ilusão”.
As conclusões políticas estão claramente explicitadas: “Para ter alguma chance de derrubar o tecnofeudalismo e colocar o demos de volta na democracia”, uma “grande coalizão” é necessária, unindo os remanescentes do proletariado tradicional, proles das nuvens, servos das nuvens e “pelo menos alguns dos capitalistas vassalos”.
Em resposta ao relato anticomunista de Varoufakis, Callinicos propôs uma “discussão frutífera” sobre um “livro muito interessante”. O próprio apelo de Callinicos à ortodoxia durante uma apresentação divagante de 15 minutos — discordando que o capitalismo foi substituído pelo feudalismo e citando a descrição de Marx do proletariado como a classe universal da emancipação humana — foi resolvido com suas palavras finais a Varoufakis: “Acho que temos os mesmos inimigos. Eu gostaria que pudéssemos simplesmente concordar em chamá-los de bastardos.”
O que o CIQI escreveu em 2015 se aplica plenamente ao Reino Unido:
A experiência do Syriza traz a necessidade de uma reorientação política fundamental da classe trabalhadora, da juventude e dos intelectuais socialistas. Diante de uma crise econômica global sem precedentes desde os anos de 1930 e um ataque violento de toda a classe capitalista, a classe trabalhadora não pode se defender elegendo novos governos capitalistas de “esquerda”.
O único caminho é através de uma autêntica política revolucionária, mobilizando a classe trabalhadora na Grécia e internacionalmente em luta. É necessário o ataque direto à classe capitalista, o confisco de sua riqueza, a expropriação dos maiores bancos e forças produtivas, com o objetivo de colocá-los sob o controle democrático dos trabalhadores e a criação de Estados Operários pela Europa e o mundo. Essas lutas necessitam da criação de partidos marxistas para liderar a classe trabalhadora, combatendo de maneira implacável partidos como o Syriza.