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Perspectivas

Paz mundial através de assassinatos em massa: Netanyahu indica Trump para o Prêmio Nobel da Paz

Publicado originalmente em inglês em 9 de julho de 2025

Em janeiro de 1939, o parlamentar sueco Erik Brandt enviou uma carta satírica ao Comitê Nobel da Noruega indicando o chanceler alemão Adolf Hitler para o Prêmio Nobel da Paz.

Trump e Netanyahu na Casa Branca em 7 de abril de 2025. [AP Photo/Mark Schiefelbein]

A carta de Brandt foi escrita após a anexação da Áustria em março de 1938 e a divisão da Checoslováquia seis meses depois, e com a consciência de que Hitler estava incansavelmente se preparando para a guerra.

“O amor resplandecente de Hitler pela paz” estava “documentado em seu famoso livro Mein Kampf – talvez ao lado da Bíblia, a melhor e mais popular obra de literatura do mundo”, escreveu Brandt em palavras repletas de sarcasmo. “Provavelmente, Hitler irá, se não for incomodado e for deixado em paz por belicistas, pacificar a Europa e possivelmente o mundo todo”, concluiu.

Embora seja uma sátira óbvia, a essência da carta foi completamente ignorada pela opinião pública mundial, que a tomou como um elogio ao maníaco homicida, provocando indignação nas redações de jornais na Suécia e em todo o mundo.

Duas coisas são diferentes hoje na indicação de 7 de julho do presidente dos EUA Donald Trump para o Prêmio Nobel da Paz pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Primeiro, Netanyahu está sendo completamente sério. Segundo, não existe indignação nas redações de jornais.

Netanyahu anunciou durante um jantar na Casa Branca que enviou sua carta ao Comitê Nobel. Explicando a indicação, Netanyahu elogiou a “vitória histórica” do bombardeio do Irã pelos EUA-Israel, no qual os dois países usaram o pretexto da diplomacia para assassinar dezenas de líderes civis, oficiais militares e figuras científicas, e matar pelo menos 600 civis. Trump está “forjando a paz, enquanto falamos, em um país, em uma região após a outra”, disse Netanyahu.

Trump, radiante de orgulho, exaltou suas contribuições para a paz mundial, afirmando ter usado “as maiores bombas de todas, as maiores bombas que já lançamos sobre alguém”, no ataque ao Irã. Trump então elogiou o uso de armas nucleares pelo presidente dos EUA Harry Truman contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, dizendo que “isso parou muitos combates”, parecendo lamentar que o bombardeio do Irã não incluiu ogivas nucleares.

A reunião de Trump com Netanyahu está sendo aclamada na mídia dos EUA e internacional como um esforço para cultivar a “paz” por meio do acordo de um “cessar-fogo” em Gaza, que Trump estaria “pressionando” para acontecer. Esqueça o fato de que ambos os homens afirmaram abertamente que sua visão de “paz” inclui a limpeza étnica do povo palestino e a morte de qualquer um que resista. O plano de “realocação” de Trump não foi mencionado nas prévias da mídia sobre a viagem. Além disso, é claro, as palavras “limpeza étnica” e “genocídio” são proibidas na cobertura da mídia sobre as políticas dos EUA-Israel em Gaza.

Atualmente, Netanyahu enfrenta um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra cometidos durante o genocídio, incluindo o uso da fome como arma de guerra. Mas a França, a Alemanha e a Itália afirmaram que irão ignorar o mandado de prisão do TPI, com o chanceler alemão Friedrich Merz indo tão longe a ponto de convidar Netanyahu para o país, desobedecendo a ordem.

Longe de buscar processar as figuras responsáveis pelo genocídio, os líderes das potências imperialistas estão trabalhando para processar aqueles que se opõem a ele. O grupo britânico Ação Palestina foi classificado como uma organização terrorista pelo governo do Reino Unido, que está buscando apresentar acusações de terrorismo contra os grupos musicais Kneecap e Bob Vylan, que lideraram protestos contra o genocídio em Gaza.

O principal objetivo da reunião entre Trump e Netanyahu é planejar a próxima fase da “paz” – ou seja, sua “solução final” na Palestina: reunir a população palestina em campos de concentração, em preparação para seu deslocamento forçado para outros países.

Quando Trump apresentou pela primeira vez seu plano para “possuir” a Faixa de Gaza, “nivelá-la” e enviar o povo palestino para “outros países”, isso foi apresentado pela mídia dos EUA e internacional como uma espécie de bizarro “sonho”. Era “inviável” e “impraticável”, nas palavras do New York Times, que sugeriu que a proposta poderia ser simplesmente uma tática de negociação.

Nos seis meses desde que a anunciou, ficou claro que o plano apresentado por Trump e Netanyahu é extremamente sério.

Na segunda-feira, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, anunciou planos para construir o que ele chamou de uma “cidade humanitária” nas ruínas da cidade de Rafah, no sul de Gaza, que abrigaria toda a população palestina. Ele também disse que a construção do campo seria coordenada com “o plano de emigração, que acontecerá.”

Enquanto esses planos estão sendo realizados em Israel, a participação neles inclui grandes corporações transnacionais e think tanks que abrangem toda a extensão do establishment político.

Na semana passada, o Financial Times (FT) informou sobre um documento de estratégia secreto elaborado pelo Boston Consulting Group, uma importante empresa de consultoria corporativa dos EUA, para “realocar” palestinos de Gaza. No artigo seguinte do FT, a publicação revelou que o plano foi criado com a participação de assessores do ex-primeiro-ministro trabalhista do Reino Unido, Tony Blair.

Trump e Netanyahu adotam como seu lema o slogan orwelliano “guerra é paz”. Eles acreditam que são os maiores pacificadores porque tem matado o maior número de pessoas. Por essa lógica demente, o genocídio que esses homens promoveram é sua maior contribuição para a paz mundial.

Claro, aos olhos da opinião pública mundial, Trump e Netanyahu são tiranos e criminosos. Mas eles agem não como indivíduos, mas como os principais representantes dos ideais do sistema capitalista.

Vladimir Lenin escreveu em 1916 que o imperialismo requer ditadura doméstica e vasta criminalidade e pilhagem no exterior, tudo fruto do crescimento monstruoso da riqueza e do poder da classe capitalista. No final, o genocídio em Gaza, como a expressão mais predatória da guerra imperialista global, é uma manifestação da violência homicida sendo desencadeada sobre a humanidade pelo capitalismo.

Trump e Netanyahu agem de maneira tão provocativa e descarada porque sabem muito bem que expressam os ditames da classe capitalista e que não enfrentarão oposição do Partido Democrata ou de qualquer setor do establishment político. Essa oposição virá da construção de um movimento de massas contra o imperialismo liderado pela classe trabalhadora.

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