Publicado originalmente em inglês em 20 de junho de 2025
O ataque dos EUA-Israel contra o Irã na última semana abriu uma nova frente em uma guerra em escalada que se expande por toda a região e pelo mundo.
Na quinta-feira, o governo Trump anunciou que “dentro de duas semanas” tomaria uma decisão sobre atacar diretamente o Irã, ao invés de confiar em seu proxy israelense, que iniciou a guerra há uma semana com ataques militares. Israel tem realizado ataques diários contra Teerã e outros alvos, que continuaram na quinta-feira.
Na mídia dos EUA, há especulação de que o atraso de duas semanas na tomada de decisão de Trump pode ser “uma cobertura para uma decisão de atacar, imediatamente”. Como colocou o almirante aposentado James Stavridis em comentários à CNN, poderia ser um “estratagema para levar os iranianos a uma sensação de complacência”. Isso estaria de acordo com os métodos mafiosos usados por Israel e pelos EUA na semana passada, quando Israel aproveitou a oportunidade criada por supostas negociações entre os EUA e o Irã para assassinar altas autoridades do governo e militares.
No início desta semana, Trump disse que tomaria uma decisão sobre lançar uma guerra direta contra o Irã “um segundo antes” de fazê-lo. O New York Times também observou que um atraso de duas semanas daria aos EUA tempo para “reforçar suas próprias opções militares”, enquanto Israel continua os bombardeios.
Uma consequência não intencional do atraso de Trump é implodir ainda mais a narrativa fraudulenta promovida por Israel e todas as potências capitalistas, usada para justificar um ato de agressão ilegal. Israel afirmou que lançou os ataques para se defender de uma “ameaça iminente”. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou que o Irã é “um perigo claro e presente para a própria sobrevivência de Israel” devido ao seu suposto programa de armas nucleares.
O verdadeiro objetivo da guerra – a derrubada do governo iraniano – veio rapidamente à tona. Na quinta-feira, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, declarou que o líder supremo do Irã, Khamenei, “não pode continuar a existir”.
Ao fazer essa declaração, Katz reiterava a declaração feita dias antes por John Bolton, embaixador do governo Bush na ONU, de que “a única base duradoura para a paz e segurança no Oriente Médio é derrubar os aiatolás. O objetivo declarado dos EUA deve ser exatamente esse.”
Como sempre, há um nível impressionante de hipocrisia em cada palavra pronunciada por Israel e seus apoiadores imperialistas. Katz proclamou que o assassinato do Aiatolá Khamenei era necessário devido a um ataque de mísseis iranianos que acertou um prédio hospitalar em Israel, com 80 pessoas sofrendo ferimentos leves. Enquanto isso, o governo israelense assassina dezenas de palestinos em centros de assistência diariamente, depois de ter destruído quase todos os hospitais na Faixa de Gaza.
A hipocrisia é acompanhada de mentiras de escala monstruosa. A propaganda para justificar a guerra contra o Irã reverbera as mentiras usadas para justificar a invasão do Iraque pelos EUA em 2003. Naquela época, mentiras sobre “armas de destruição em massa” foram usadas para vender uma guerra de agressão ilegal que culminou no assassinato do presidente iraquiano Saddam Hussein. A guerra levou à morte de centenas de milhares de pessoas e à destruição de uma sociedade inteira.
As mentiras de hoje são ainda mais descaradas. Mesmo as agências de inteligência dos EUA reconhecem que o Irã não está buscando construir armas nucleares, e o país abriu suas instalações de energia nuclear para inspetores internacionais. Israel, por outro lado, acumulou um arsenal de armas nucleares desafiando a legislação internacional.
Quanto ao fato de ser um “perigo claro e presente”, o Estado de Israel está envolvido em uma campanha sistemática de assassinatos de líderes iranianos e, nos últimos 20 meses, tem travado uma campanha de extermínio contra o povo palestino.
Qual é o verdadeiro objetivo da guerra? O imperialismo americano, utilizando seu proxy Israel, busca a dominação direta da região vital e rica em recursos e das vias arteriais do Golfo Pérsico e do Mar Cáspio. Para a classe dominante, esse é um objetivo crítico não apenas em si mesmo, mas como uma preparação fundamental para o conflito planejado contra a China.
Na busca por esse objetivo, o imperialismo dos EUA está disposto a cometer qualquer crime. Em uma postagem no X, Jacqui Heinrich, âncora da Fox News, relatou que a Casa Branca negou “que qualquer opção (incluindo armas nucleares táticas) esteja fora da mesa”. Em outras palavras, os Estados Unidos estão contemplando ativamente o uso de armas nucleares contra o Irã.
O imperialismo americano jamais se conformou com a perda do Irã como um de seus principais Estados clientes no Oriente Médio. De 1953 – quando a CIA orquestrou um golpe contra o primeiro-ministro eleito do Irã, Mohammad Mossadegh – até 1979, o xá governou como o gendarme de Washington no Golfo Pérsico. A revolução de 1979 que derrubou a brutal ditadura do xá apoiada pelos EUA foi um golpe significativo ao imperialismo americano.
O lançamento da “guerra ao terror” pelo governo Bush visava reverter todas essas derrotas por meio da violência imperialista ilimitada. O governo Bush tinha como meta travar, nas palavras do general aposentado Wesley Clark, “sete guerras em cinco anos”, incluindo a mudança de regime no Afeganistão, Iraque, Síria, Líbano e Irã.
No fim das contas, o governo Bush só conseguiu travar guerras contra o Afeganistão e o Iraque, que se tornaram imbróglios sangrentos para o imperialismo dos EUA. O governo Obama derrubou o governo líbio e lançou uma operação de mudança de regime na Síria que levou, em última análise, à derrubada do governo de al-Assad em dezembro de 2024. Sob Biden e Trump, Israel lançou um programa de assassinato em massa e bombardeios que aniquilou a liderança do Hezbollah no Líbano. Mas a joia da coroa para o imperialismo dos EUA no Oriente Médio, a derrubada do governo iraniano, agora está na pauta.
A guerra contra o Irã, assim como o genocídio em Gaza que a precedeu, só pode ser entendida como parte de uma guerra global de dominação imperialista e contrarrevolução. Quaisquer que sejam as diferenças dentro da classe dominante americana, suas frações – Democratas e Republicanos – estão unidas nesse imperativo estratégico. A mídia americana, como de regra, rapidamente se alinhou à empreitada, replicando a propaganda do governo Trump e clamando por guerra.
Quanto às potências imperialistas da Europa, elas estão mais uma vez preocupadas que os Estados Unidos as deixem excluídas dos espólios, enquanto apoiam a violência sangrenta de Israel. “Este é o trabalho sujo que Israel está fazendo por todos nós”, declarou o chanceler alemão Friedrich Merz esta semana – isto é, promovendo massacres para submeter o Oriente Médio ao controle imperialista.
Em uma declaração postada no X esta semana, Yanis Varoufakis, ex-ministro das finanças do governo Syriza na Grécia, declarou: “Ignorem a guerra com o Irã. Os iranianos podem se defender sozinhos. Os palestinos precisam que CONTINUEMOS FALANDO DE GAZA!”. Esta declaração, de um representante proeminente da pseudoesquerda internacional (que ajudou a impor o programa de austeridade da União Europeia), é uma declaração de total falência política.
Uma das questões centrais que os principais organizadores dos protestos contra o genocídio em Gaza tentaram encobrir é a relação entre o massacre do povo palestino e a guerra imperialista mais ampla na qual está inserido, incluindo a guerra dos EUA-OTAN contra a Rússia e o conflito em desenvolvimento com a China. Com a guerra contra o Irã, a realidade desse conflito global veio à tona.
Ao mesmo tempo, a guerra expôs a completa falência do regime burguês iraniano. Mesmo agora, em condições de ataque militar direto, o governo iraniano continua a apelar para negociações. Mas o imperialismo não pode ser razoável. Seu objetivo é a total submissão do Irã e o saque de seus vastos recursos.
O Partido Socialista pela Igualdade faz um apelo urgente pela oposição em massa contra o iminente ataque do governo Trump ao Irã. Nos Estados Unidos, milhões de pessoas saíram às ruas no último fim de semana em manifestações contra o governo fascista de Trump e suas deportações, repressão e ditadura. Esses protestos mostraram que há uma oposição profunda e crescente à guerra e ao autoritarismo no coração da principal potência imperialista. Mas essa oposição deve ser armada com um programa político claro. Precisa se organizar conscientemente como um movimento da classe trabalhadora, independente e em oposição a todas as frações da classe dominante capitalista.
A luta contra a guerra deve estar inseparavelmente ligada à luta contra a desigualdade, a ditadura e a exploração. Requer a construção de um movimento unificado e internacional da classe trabalhadora contra o capitalismo e pelo socialismo.