Português

Nacionalismo pequeno-burguês contra o trotskismo: Partido da Causa Operária (PCO) defende repressão de Erdoğan na Turquia - Parte 1

Esta é a primeira parte de uma série de dois artigos. A segunda parte pode ser lida aqui.

No início de abril, o Partido da Causa Operária (PCO) do Brasil publicou um ataque calunioso contra a declaração do Grupo Socialista pela Igualdade (SEG) da Turquia, “A crise na Turquia e a luta pela direção revolucionária”, publicada no World Socialist Web Site e em sua página em português.

Imagem do ato massivo organizado pelo Partido Republicano do Povo (CHP) em Istambul exigindo “Liberdade para İmamoğlu”, em 29 de março de 2025. [Photo by @herkesicinCHP]

Em três partes, sob o título “Uma vez mais, o ‘trotskismo’ em favor do imperialismo na Turquia: WSWS apoia com entusiasmo manifestações da OTAN/ WSWS mostra novamente sua incapacidade de compreender o fenômeno do nacionalismo burguês”, a declaração é uma autoexposição involuntária da podridão política e intelectual dessa organização pseudoesquerdista.

Caluniando indiscriminadamente o SEG e o movimento de massas da classe trabalhadora e da juventude na Turquia, o PCO defende abertamente o estabelecimento de uma ditadura pelo presidente Recep Tayyip Erdoğan.

Este artigo é a peça mais recente de uma campanha do PCO em resposta à crescente influência da política internacionalista revolucionária do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) no Brasil e internacionalmente. É também uma continuação da sua resposta raivosa à exposição feita pelo WSWS do apoio servil do PCO ao governo reacionário de Erdoğan.

Em julho de 2023, publicamos um artigo expondo a comemoração da reeleição de Erdoğan pelo PCO, que eles apresentaram como uma “derrota do imperialismo”. Suas declarações reacionárias foram divulgadas na Turquia, apresentadas como a posição dos “trotskistas brasileiros” e reportadas pela mídia oficial do governo.

O Grupo Socialista pela Igualdade (GSI) do Brasil, em colaboração com seus camaradas do SEG na Turquia, expôs a armadilha política montada pelo PCO para a classe trabalhadora de ambos os países. O PCO respondeu a essa exposição com um ataque chauvinista histérico contra o CIQI e seus apoiadores brasileiros, acusando-os de ser um “grupo gringo pró-imperialista”.

O GSI refutou essas calúnias e as falsificações grosseiras do trotskismo pelos nacionalistas pequeno-burgueses do PCO. Eles responderam a essa análise principista com um silêncio covarde.

No entanto, a última provocação do PCO expõe ainda mais a essência de sua oposição à política do WSWS: defender o nacionalismo burguês falido contra o trotskismo e o programa da Revolução Permanente.

O título da declaração do PCO diz tudo: “Uma vez mais, o ‘trotskismo’ em favor do imperialismo”. Em seu conteúdo e linguagem, ela ecoa as calúnias do stalinismo contra o movimento trotskista.

PCO calunia manifestações de massa na Turquia e a perspectiva revolucionária do SEG

A declaração do PCO inventa uma série de mentiras descaradas, caluniando tanto as manifestações de massa que eclodiram em março na Turquia quanto os trotskistas do SEG, que lutam para armar os trabalhadores e jovens turcos com uma perspectiva revolucionária.

A caracterização do PCO desses protestos como “manifestações da OTAN”, supostamente “impulsionadas pelo imperialismo para que servissem de cobertura para um golpe de Estado – as chamadas ‘revoluções coloridas’”, é uma distorção grotesca.

Como escreveu o WSWS, no início de março, a Turquia foi sacudida por uma onda maciça de protestos desencadeada pela prisão de Ekrem İmamoğlu, prefeito de Istambul e candidato presidencial do Partido Republicano do Povo (CHP) kemalista. As manifestações foram brutalmente reprimidas pelo governo de Erdoğan, enquanto o CHP fez o possível para impedi-las e, quando isso se mostrou impossível, desviá-las a canais seguros controlados pelo Estado burguês.

O que levou os jovens e trabalhadores às ruas foi uma ampla e legítima defesa dos direitos democráticos e oposição à instauração de uma ditadura presidencial. Mas eles também foram impulsionados pela oposição popular à crescente desigualdade social e às décadas de guerra em toda a região.

As manifestações antigoverno ocorreram em um contexto de desenvolvimento explosivo da luta de classes na Turquia, com implicações revolucionárias objetivas. Nos últimos anos e meses, trabalhadores de diferentes indústrias aderiram a movimentos de greves espontâneas que desafiaram as proibições governamentais e o controle da burocracia sindical.

O PCO denunciou o WSWS por caracterizar a crise na Turquia como revolucionária e um “presságio do futuro nos outros países”. Como explicaremos, eles percebem com razão as implicações devastadoras de tal perspectiva para suas próprias operações políticas reacionárias no Brasil.

A declaração do PCO começa acusando o WSWS de “distorcer a realidade em favor das mobilizações”, alegando que “dizer, em primeiro lugar, que os protestos na Turquia envolvem milhões de pessoas é uma falsificação”. Eles estão errados. Mesmo que a escala dessa mentira seja eclipsada pelo que vem a seguir, é a partir de falsificações menores que uma calúnia monstruosa começa a ser erguida.

Para fundamentar sua afirmação, o artigo cita seletivamente uma reportagem da Al Jazeera de 21 de março, mencionando que “pequenos grupos de manifestantes se enfrentaram com a polícia” na prefeitura de Istambul na noite anterior. Em seguida, citam o líder do CHP, Ozgur Ozel, que proclamou na ocasião: “somos 300 mil”. “Ainda que seja um exagero”, escrevem eles, “está longe de ser uma mobilização de ‘milhões de pessoas’”.

Indiferentes ao que realmente está ocorrendo na Turquia, o PCO omite o fato de que a reportagem da Al Jazeera se referia apenas ao segundo dia de protestos, que se intensificaram nos dias seguintes. Em 29 de março, cerca de 2,2 milhões de pessoas participaram de uma manifestação somente em Istambul, enquanto manifestações massivas ocorriam também em outras cidades.

Além das falsificações sobre a escala dos protestos, o PCO fabrica uma acusação contra a declaração do WSWS com base em suas referências ao CHP como um “partido kemalista” e ao “governo islâmico” de Erdoğan. Isolando esses termos de seu contexto no documento do SEG, eles embarcam em jornada retórica que ocupa duas partes inteiras de sua declaração.

Ocultando de seus leitores a análise do SEG sobre o caráter histórico e de classe de İmamoğlu e do CHP, o PCO proclama falsamente: “o texto [do WSWS] apresenta Ekrem İmamoğlu simplesmente como o ‘prefeito de Istambul’ e como alguém de ‘orientação kemalista’”.

O argumento que se segue é revelador em relação à orientação de classe do próprio PCO:

Caracterizar um político como “kemalista” é o mesmo que considerá-lo herdeiro de Mustafa Kemal Atatürk, o fundador da República da Turquia. Seria, portanto, o mesmo que considerar o político em questão um nacionalista, alguém que defende um programa voltado para o desenvolvimento econômico turco.

O PCO parece espantado diante de sua própria ignorância. É um fato básico que o CHP é o partido fundado por Atatürk. A evolução reacionária do kemalismo demonstra a falência histórica e a inviabilidade de toda perspectiva nacionalista burguesa – como a que defende o PCO – na época imperialista.

Duas mulheres passam em Istambul por um cartaz mostrando ao fundo uma imagem de Mustafa Kemal Atatürk comemorando o centenário da Turquia moderna, em 25 de outubro de 2023. [AP Photo/Emrah Gurel]

A certa altura, o PCO admite francamente não saber do que se trata o caso de İmamoğlu: “Na imprensa estrangeira – isto é, fora da Turquia –, há poucas informações sobre Imamoglu”. Sua ignorância sobre a realidade política turca não impede o PCO de emitir declarações categóricas.

Eles escrevem:

O CHP hoje cumpre um papel semelhante ao que cumpre Vladimir Zelensqui na Ucrânia ou ao que cumpre Edmundo González na Venezuela. É um lacaio do imperialismo e de suas organizações, como a OTAN. Dizem abertamente: dependemos de vocês – forças imperialistas – para conquistar os nossos objetivos.

Essa caracterização, propositalmente omitida pelo WSWS, é a mais importante para analisar as manifestações na Turquia. (...) Não é uma mobilização “kemalista”, nem a defesa abstrata dos direitos políticos do prefeito de Istambul. É uma mobilização do imperialismo em defesa de seus próprios interesses em um dos países mais importantes do mundo. [ênfase adicionada]

É o PCO, na verdade, que omite deliberada e desonestamente os parágrafos da declaração do SEG que caracterizam claramente o CHP e definem a atitude dos trotskistas em relação a ele. Citamos na íntegra:

O Sosyalist Eşitlik Grubu exige a libertação de İmamoğlu e de todos os outros membros do CHP presos em violação de seu direito a um julgamento justo. Entretanto, isso não implica em nenhum apoio político ao CHP. Por sua própria natureza, o CHP não pode promover a luta pelos direitos democráticos. Pelo contrário, o CHP está tentando desviar o movimento de massa para as eleições e, assim, suprimi-lo. Assim como o governo Erdoğan, ele se opõe a um movimento revolucionário da classe trabalhadora que desafiaria o sistema capitalista e o governo burguês dos quais esses problemas fundamentais se originam.

O CHP é um partido nacionalista burguês que está alinhado com as mesmas potências imperialistas que colaboram com o governo Erdoğan e provou mais uma vez que é incapaz de defender os direitos democráticos. Para acalmar os temores da burguesia turca em relação a uma revolução, o CHP procurou tranquilizar as potências imperialistas e obter seu apoio declarando que é um “partido da OTAN”. Diversas tendências políticas stalinistas e pablistas também cumpriram seu papel de impedir o desenvolvimento de uma alternativa socialista revolucionária ao subordinar completamente o movimento de massa à liderança e à política do CHP.

A falta de firmeza e a capitulação política do CHP como um partido burguês fazem parte de um fenômeno global. Como Leon Trotsky, que co-liderou a Revolução de Outubro de 1917 com Vladimir Lenin e fundou a Quarta Internacional em 1938, explicou em sua teoria da revolução permanente, nenhuma fração da burguesia no mundo na época atual pode defender consistentemente a democracia, a igualdade social e uma política anti-imperialista.

A segunda parte da declaração do PCO faz uma tentativa ainda mais patética de difamar o WSWS, apresentando sua utilização do termo “islâmico” em referência a Erdoğan como prova incontestável da orientação “pró-imperialista” do CIQI.

Começa da seguinte forma:

O WSWS já demonstrou que não era marxista ao ignorar completamente o conteúdo social da candidatura de Imamoglu. Isto é, ignorou a classe que a candidatura representa – o imperialismo. Reforçando o erro, o WSWS apresenta o governo turco meramente como um “governo islâmico”.

É difícil dizer o que seria um “governo islâmico” – e o WSWS tampouco faz questão de explicar.

Censurando nossa verdadeira análise do caráter histórico e de classe tanto do CHP quanto de Erdoğan, o PCO arma uma batalha contra um espantalho, um oponente político fictício que apresenta o conflito na Turquia como entre os “kemalistas” progressistas e os “islamistas” reacionários.

O que escrevemos em uma resposta anterior aos ataques sujos do PCO se aplica inteiramente: “Isso não passa de um jogo de palavras, o método político do pequeno-burguês desonesto e desmoralizado.”

Os pseudoesquerdistas brasileiros protestam: “O fato é que não há nada no mundo real que sirva de base para chamar o governo turco de ‘islâmico’”. “É uma intriga que tem como único fim facilitar o trabalho do imperialismo na dominação da Turquia”, concluem.

“Nada no mundo real”, diz o PCO! Escrever isso requer um nível extraordinário de ignorância e desprezo pelos fatos políticos.

Erdoğan vem do tradicional movimento político islâmico turco “Milli Görüş”. Ele e seu AKP têm agido de acordo com o papel de “islamismo moderado” atribuído a tais movimentos pelo imperialismo norte-americano há mais de 20 anos.

Citemos um discurso proferido pelo “secular” Erdoğan em fevereiro de 2024:

Por quase mil anos, os turcos preservaram o Islã, e o Islã preservou os turcos; os turcos foram a espada do Islã, e o Islã foi a espada dos turcos. Passando dos olhos pelos livros de história, a verdade que emerge é esta: ser turco é ser muçulmano. (...) Uma definição e um projeto de turquidade que não carreguem o espírito da jihad no Islã são, em essência, uma tentativa de transformar a nação turca em uma peça de museu, um elemento folclórico.

A alegação do PCO de que os islamistas são o alvo do imperialismo é um claro subterfúgio. A Arábia Saudita e outros Estados muçulmanos obscurantistas do Golfo, escolhidos por Donald Trump como destino de sua primeira grande viagem ao exterior, servem como âncoras da política imperialista dos EUA no Oriente Médio. Enquanto Washington e as potências imperialistas europeias promovem uma violenta redivisão do Oriente Médio, inclusive através do apoio ao genocídio sionista em Gaza, elas enaltecem o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), dissidente da Al-Qaeda que recentemente tomou o poder na Síria.

Erdoğan tem sido um grande apoiador tanto do HTS na Síria quanto dos jihadistas ligados à Al-Qaeda na Líbia, em parte devido a afinidades políticas e ideológicas. Ele também apoiou a Irmandade Muçulmana no Egito, em oposição à ditadura militar de al-Sisi. Isso acabou há algum tempo. Seguindo os interesses da burguesia turca, Erdoğan abraçou al-Sisi, um aliado do imperialismo norte-americano e do regime sionista, chamando o ditador sanguinário de “meu querido irmão”.

Vale notar que toda a “polêmica” do PCO foi construída, até agora, em torno de uma única citação do primeiro parágrafo da declaração do SEG!

Na narrativa fraudulenta fabricada pelos pseudoesquerdistas brasileiros, o SEG – que o PCO apresenta falsamente como a “versão turca” do WSWS “norte-americano” – é transformado num reles apoiador do CHP.

Na verdade, o SEG é a única tendência política na Turquia que se opõe irreconciliavelmente a todos os setores da burguesia e luta pela independência política da classe trabalhadora com base no programa da revolução socialista internacional.

É essa perspectiva internacionalista – que conecta poderosamente os destinos da classe trabalhadora na Turquia e no Brasil – que o PCO tenta desesperadamente esconder do público brasileiro.

Militantes do PCO ou leitores de seu site que acreditem que o conhecimento da história política e da realidade da Turquia é necessário para fazer uma avaliação séria deve examinar cuidadosamente os documentos escritos pelo SEG e pelo WSWS.

Na página em português do WSWS, você encontrará estes documentos críticos:

Uma aula neostalinista sobre nacionalismo burguês

É na parte final de sua declaração que o PCO elabora mais abertamente sua própria perspectiva política. Ela os expõe inequivocamente como defensores da reação capitalista contra a classe trabalhadora.

O título da declaração ataca a suposta “incapacidade do WSWS de compreender o fenômeno do nacionalismo burguês”. Como o PCO o compreende, então?

Definindo o caráter social e econômico das contradições políticas na Turquia, eles escrevem: “O que existe é uma dominação das grandes potências – como a Alemanha, o Reino Unido e os Estados Unidos – e a luta do povo turco contra essa dominação. As instituições turcas são, neste sentido, um reflexo desta luta”.

Em outro parágrafo, atacando nossa comparação entre o desenvolvimento de formas ditatoriais de governo nos EUA e na Turquia, eles argumentam:

O problema dessa análise, no entanto, é que ela ignora que a burguesia turca é completamente diferente da burguesia norte-americana.

A burguesia turca, como a burguesia de qualquer país atrasado, é uma burguesia semi-opressora, semi-oprimida. É uma burguesia que, ao mesmo tempo em que oprime a classe operária, é oprimida pelo imperialismo. E que, por isso, a depender da situação política, pode atuar de maneira bastante progressista ou de maneira bastante reacionária.

A ideia de que a opressão imperialista confere um papel progressista à burguesia nacional dos países atrasados é falsa e totalmente contrária aos princípios básicos do trotskismo.

Leon Trotsky em sua escrivaninha em Prinkipo [Photo]

Vale lembrar como Trotsky contextualizou a luta contra a opressão nacional pelo imperialismo – e suas observações específicas sobre a América do Sul – na época da revolução socialista internacional:

A libertação das colônias será apenas um gigantesco episódio da revolução socialista mundial, assim como a revolução democrática tardia na Rússia, que também era um país semicolonial, foi apenas a introdução da revolução socialista. (...)

Não é a burguesia atrasada sul-americana, uma agência totalmente corrupta do imperialismo estrangeiro, que será chamada a resolver essa tarefa, mas o jovem proletariado sul-americano, o líder eleito das massas oprimidas. A palavra-de-ordem da luta contra a violência e as intrigas do imperialismo mundial e contra os serviços sangrentos das camarilhas compradoras nativas é, portanto: Estados Unidos Soviéticos da América do Sul e Central.

Mesmo no caso de uma guerra progressista de libertação nacional, na qual seria obrigação dos marxistas apoiar o país oprimido em sua luta contra o imperialismo, sua tarefa central continua sendo lutar pela mobilização independente da classe trabalhadora em oposição direta à burguesia.

Como Trotsky insistia, qualquer concessão às pretensões da burguesia de defender os interesses da nação contra o imperialismo; qualquer exagero das diferenças entre os setores comprador e nacionalista da burguesia, ambos, em última instância, agentes do imperialismo; qualquer atenuação dos interesses opostos da classe trabalhadora e da burguesia é um crime hediondo contra a revolução socialista.

As formulações do PCO sobre a burguesia nacional e suas relações com o imperialismo, na verdade, não diferem em nada daquelas do stalinismo.

A perspectiva stalinista, que ressuscitou a teoria menchevique da revolução em duas etapas, surgiu como uma reação nacionalista à Teoria da Revolução Permanente de Trotsky, que guiou a Revolução Russa.

As experiências políticas com a ideia defendida pelo PCO de que a burguesia nos países atrasados “pode atuar de maneira bastante progressista” sempre levaram à catástrofe para a classe trabalhadora, começando com a derrota da Revolução Chinesa de 1927 sob o “bloco das quatro classes” de Stalin. Toda a história da América Latina no século XX é um testemunho trágico disso.

Em nossa resposta anterior ao PCO, tratamos em detalhes suas grosseiras falsificações teóricas dos escritos de Trotsky, com o objetivo de transformar o defensor da Teoria da Revolução Permanente em um apologista vulgar do nacionalismo burguês.

É notável que, em seu ataque mais recente contra o WSWS, o PCO tenha abandonado qualquer esforço de vincular suas próprias posições neostalinistas ao trotskismo.

Os fundamentos políticos do PCO, baseados na tradição etapista stalinista, são totalmente falidos em si mesmos. Mas é preciso notar também que Erdoğan não é Chiang Kai-shek ou Atatürk. Identificá-lo como o líder de um setor “anti-imperialista” da burguesia turca é simplesmente absurdo.

Nos parágrafos finais de sua declaração, o PCO escreve:

O governo Erdogan, conforme a própria análise do termo “governo islâmico” já indicou, é um governo com uma série de contradições com o imperialismo. É um governo, por exemplo, que constantemente tem atritos com o Estado de “Israel”. Ao mesmo tempo, é um governo com relações próximas com a Rússia. Neste sentido, é um obstáculo à política de dominação do imperialismo sobre o Oriente Médio e o Leste Europeu.

A Turquia, além de ser um país atrasado, é um dos territórios com localização mais estratégicas do mundo. Está próxima à Rússia, aos Bálcãs, à Europa Central, ao Oriente Médio e ao Cáucaso. Por isso mesmo, é membro da OTAN.

Para o imperialismo, uma Turquia completamente alinhada aos seus interesses poderá ser um fator decisivo nos conflitos militares futuros. Por outro lado, uma Turquia rebelde poderá ser o fiel da balança para a luta dos países oprimidos.

O governo Erdoğan não é um obstáculo à política de dominação do imperialismo sobre o Oriente Médio e o Leste Europeu; é uma ferramenta para essa política.

A burguesia turca e seu establishment político têm se orientado cada vez mais para o imperialismo e é sua colaboradora desde a fundação da república turca. Ao contrário do que afirma o PCO, a Turquia não é membro da OTAN apenas por sua localização geográfica, mas como resultado da determinação da burguesia em se opor à URSS após a Segunda Guerra Mundial.

Nas últimas três décadas, como explica a declaração do SEG, a burguesia turca “esteve profundamente envolvida nas guerras imperialistas de agressão no Oriente Médio, Ásia Central e Norte da África”. Desde que Erdoğan chegou ao poder em 2002, ele “apoiou a guerra no Iraque, enviou tropas ao Afeganistão e ajudou nas guerras de mudança de regime na Líbia e na Síria. Apesar de suas críticas retóricas, ele apoiou o genocídio em curso do regime sionista israelense em Gaza, com o apoio dos EUA e da OTAN”.

Em 2024, a Turquia era o quinto maior exportador para Israel. Ao mediar o transporte de petróleo do Azerbaijão para Israel através do oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan, a Turquia é cúmplice do genocídio dos palestinos, alimentando a máquina de guerra de Israel.

Estabelecida em 2012 sob o governo Erdoğan para uso da OTAN, a Base de Radar Kürecik, na Turquia, é operada pelos militares dos EUA. Este sistema de radar de alerta precoce protege as forças da OTAN, bem como Israel, e é usado contra o Irã e seus aliados, que são alvos do imperialismo norte-americano e do regime sionista.

Quanto ao “conflito” entre as burguesias turca e israelense, não há nenhum lado progressista entre esses dois aliados críticos do imperialismo norte-americano. Eles estão se enfrentando devido à crescente disputa pela redistribuição dos recursos e da influência no Oriente Médio e no Mediterrâneo Oriental, incluindo a Síria. Na raiz desse conflito estão mais de 30 anos de agressão do imperialismo norte-americano no Oriente Médio em sua busca pelo domínio total da região.

As tensões decorrentes da tentativa da Turquia de preservar os laços com Moscou em meio à escalada da guerra dos EUA-OTAN contra a Rússia – uma questão crítica por trás da tentativa de golpe contra Erdoğan em 2016 – não alteraram essa relação fundamental.

Na verdade, Erdoğan lançou sua repressão autoritária contra a oposição política contando com a aprovação silenciosa dos EUA e das potências europeias devido ao fortalecimento de sua parceria.

A linha política do PCO é tão podre que, em seu ataque anterior contra o WSWS, eles saíram em defesa aberta da colaboração do regime de Erdoğan com os objetivos de guerra da OTAN, justificando sua legitimidade por ser uma “moeda de troca para a entrada da Turquia na União Europeia”.

A conversa delirante sobre uma “Turquia rebelde” sob o governo de Erdoğan liderando a “luta dos países oprimidos” contra o imperialismo apenas expõe as últimas consequências da perspectiva nacionalista falida do PCO.

Continua.

Loading