Estamos publicando a seguir o vídeo e o texto do discurso de Tomas Castanheira, dirigente do Grupo Socialista pela Igualdade no Brasil, no Ato Online do Dia Internacional dos Trabalhadores realizado pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional em 3 de maio.
O Primeiro de Maio é o dia em que celebramos a unidade internacional da classe trabalhadora. Jamais os trabalhadores estiveram tão integrados internacionalmente, operando juntos o grande chão-de-fábrica da produção globalizada. E, ao mesmo tempo, nunca foi tão urgente a afirmação política dessa unidade internacional.
O retorno de Trump à Casa Branca marca um realinhamento da política externa do imperialismo americano para a dominação do Hemisfério Ocidental, vista como um passo necessário à sua ofensiva contra a China.
Discursando ao Congresso dos EUA em fevereiro, o comandante do SOUTHCOM, Almirante Alvin Holsey, explicou:
A região [da América Latina e do Caribe] está na linha de frente de uma disputa decisiva e urgente para definir o futuro do nosso mundo. A China está atacando os interesses dos EUA em todas as frentes, em todos os domínios... Se não conseguirmos competir adequadamente aqui e agora, a região ficará sob a influência dos principais rivais autoritários dos EUA, o que ameaça diretamente o giro dos EUA para o Indo-Pacífico.
Washington “precisa responder à presença com presença”, concluiu Holsey. Essa doutrina aberta de intimidação pela força foi demonstrada com maior clareza nas recentes investidas ao Canal do Panamá.
Atuando como um gangster à frente do exército mais poderoso do mundo, Trump ameaçou invadir o país soberano para forçar o Panamá a romper acordos com a China e arrancar concessões militares significativas.
Aos olhos indignados de milhões de trabalhadores da região, essa política neocolonial escancarada se soma ao tratamento humilhante sendo dirigido aos imigrantes latino-americanos nos Estados Unidos.
Trabalhadores e suas famílias que atravessaram a fronteira em busca de vida melhor estão sendo caçados e deportados, amarrados dentro de um avião, sem água nem comida, sob os maus tratos de guardas que pouco devem à GESTAPO: esta se tornou a “experiência americana” na consciência coletiva da América Latina.
Os ataques aos imigrantes são a ponta de lança dos esforços da oligarquia capitalista americana para erguer uma ditadura nos Estados Unidos. Nesse e em outros aspectos, o destino da classe trabalhadora da América Latina e dos Estados Unidos está completamente atado.
Os acordos entre Trump e seu aliado fascista, Nayib Bukele, para expandir massivamente o complexo prisional de El Salvador e enviar milhares de presos estadunidenses e de outras nacionalidades evoca imagens sinistras do futuro e do passado.
A construção de um complexo transacional de repressão, prisão e tortura retoma diretamente a experiência da Operação Condor, estabelecida há exatamente 50 anos, em 1975.
Condor foi a culminação da colaboração assassina entre o imperialismo dos EUA e as ditaduras militares fascistas que se consolidaram na América Latina com apoio da CIA.
Essa rede de terror contrarrevolucionário transformou o continente num “labirinto do horror”, nas palavras da autora argentina Stella Calloni. Ela escreveu: “Um exilado político podia ser sequestrado, tomado como refém e levado para o outro lado da fronteira, torturado e desaparecido, sem qualquer autorização judicial”.
A tentativa da oligarquia americana em crise de reerguer a Doutrina Monroe no século XXI valendo-se apenas da força bruta pode bem ser caracterizada como insana. Mas a insanidade desses planos tem raízes absolutamente reais na crise incontornável do sistema imperialista.
Essa crise não abre espaço para um novo equilíbrio, em que outra potência suplantará o lugar de Washington e do dólar americano. Nem a uma nova ordem multipolar pacífica. A erupção da guerra imperialista é sua manifestação mais genuína.
Nada seria mais fatal para a classe trabalhadora latino-americana do que ser tragada para a agitação nacionalista sendo promovida pelas classes dominantes em seus próprios países.
A erupção da agressão imperialista não unifica, de fora, as classes sociais dentro dos países latino-americanos. Ao contrário, acentua seus profundos antagonismos sociais.
No Brasil, o governo Lula respondeu às tarifas de Trump promovendo o slogan “O Brasil para os Brasileiros”. Campanhas como essa visam usar da impopularidade dos ataques de Washington para subordinar os trabalhadores à burguesia nacional falida e fazer com que engulam os ataques crescentes a seus padrões de vida.
Nos últimos anos, a América Latina esteve em um estado contínuo de agitação social e política. Greves e protestos massivos clamando por igualde social, de uma vez por todas, sacudiram todos os países de região.
A classe dominante respondeu com um giro universal à direita: com a reabilitação dos herdeiros das ditaduras militares dos anos 1970; com Javier Milei na Argentina, Bolsonaro no Brasil, Daniel Noboa no Equador – as estrelas fascistas da CPAC, que inspiram e são inspiradas pelo governo da maior potência capitalista mundial.
E o que têm a oferecer os governos e partidos da Maré Rosa, a grande esperança da pseudoesquerda mundial? Capitulação atrás de capitulação aos fascistas. Em nome de restaurar a unidade nacional perdida e o sistema político burguês em frangalhos, impõem a austeridade capitalista, políticas de repressão e encarceramento em massa, e o fortalecimento dos militares.
A classe trabalhadora e a juventude estão prontas a lutar, seja para resistir às medidas de choque capitalista como por um acerto de contas definitivo com o legado persistente das ditaduras e do imperialismo.
Mas uma virada política decisiva é urgente.
O Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) e o Grupo Socialista pela Igualdade (GSI) convocam os trabalhadores no Brasil e em toda a América Latina a romperem com os meios políticos nacionais apodrecidos dominados pela burguesia e a se unirem a seus irmãos de classe nos Estados Unidos e internacionalmente para lutar contra o capitalismo, a guerra e o fascismo.
Adiante à construção da Aliança Operária Internacional dos Comitês de Base (AOI-CB), os organismos da democracia operária do século XXI!