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Perspectivas

Explosão global dos gastos militares e a luta contra a guerra imperialista

Publicado originalmente em inglês em 3 de maio de 2025

A urgência da perspectiva de construir um movimento internacional socialista da classe trabalhadora contra a guerra imperialista foi ressaltada pela divulgação, nesta semana, de um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), documentando impressionantes US$2,7 trilhões em gastos militares globais em 2024.

Membros da 436ª Esquadrilha de Portos Aéreos utilizam uma empilhadeira para mover projéteis de 155 mm destinados à Ucrânia na Base Aérea de Dover, Delaware, em 20 de abril de 2022. [AP Photo/Alex Brandon]

Mais de um terço dos gastos militares globais é devido ao imperialismo americano, com Washington gastando US$997 bilhões em guerras durante 2024, o último ano do governo Biden. Os números também revelaram aumentos dramáticos nos orçamentos de guerra na Alemanha (para US$88,5 bilhões) e no Japão (para US$55,3 bilhões), aumentos de 28% e 21% em um único ano, respectivamente. A Alemanha subiu da sétima maior em despesas militares em 2023 para a quarta maior no ano passado.

A aliança da OTAN liderada pelos EUA gastou mais de US$1,5 trilhão, ou 55% do total global. Isso é 10 vezes mais do que os US$149 bilhões alocados pela Rússia, que está sendo alvo de pilhagem dos imperialistas na guerra em curso na Ucrânia.

O aumento nos gastos militares tem sido implacável na última década, subindo mais de US$1 trilhão, do total de US$1,67 trilhão em 2015. Mas isso é apenas o início. As potências imperialistas revelaram aumentos ainda maiores em seus orçamentos de guerra com o objetivo de garantir sua parte dos espólios na nova redivisão do mundo entre as grandes potências.

A proposta orçamentária de Donald Trump para 2026, divulgada em 2 de maio, prevê um aumento de 13% para o Pentágono, para US$1,01 trilhão. Para ajudar a financiar essa quantia gigantesca, Trump planeja cortar o orçamento da educação em 12% e impor cortes massivos aos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), juntamente com outros críticos programas sociais.

Na Europa, a Alemanha se comprometeu a investir €1 trilhão (US$1,13 trilhão) para se preparar para a guerra: um “fundo especial” de €500 bilhões para garantir que a infraestrutura social — como estradas, pontes e hospitais — seja preparada para uso militar; €500 bilhões para a aquisição de equipamentos militares. Os €500 bilhões para equipamentos militares equivalem a 11% do PIB da Alemanha, mais do que os 8,6% do PIB que os créditos de guerra alemães representaram no primeiro ano da Primeira Guerra Mundial. Hitler só alcançou um nível comparável de gastos militares em 1938, após seu regime nazista ter se rearmado impetuosamente por cinco anos e apenas um ano antes do início da Segunda Guerra Mundial.

O vasto crescimento dos orçamentos militares promete lucros significativos para os fabricantes de armas — os mercadores da morte dos dias atuais — e a oligarquia financeira. Os 100 maiores fabricantes de armas globais registraram vendas totais de US$632 bilhões em 2023, com US$317 bilhões oriundos de fabricantes americanos.

A Rheinmetall, da Alemanha, que forneceu armamento ao regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial, viu um impressionante crescimento de 36% nas vendas em 2024 e espera um crescimento adicional de 25% a 30% neste ano. A Rheinmetall sugere que um aumento do gasto militar pelas potências da OTAN para 3,5% do PIB — uma meta apoiada pelos governos da Alemanha, França e Reino Unido — impulsionaria pedidos em “até €400 bilhões” até 2030.

Todas as potências imperialistas afirmam que seus gastos militares são puramente para fins defensivos, com orçamentos designados como “gastos com defesa”. Isso é uma mentira grotesca. Seja em Washington, Berlim, Londres, Paris ou Tóquio, as elites dominantes estão se armando até os dentes para promover seus predatórios interesses econômicos e geoestratégicos por meios militares contra seus rivais e “aliados” nominais em todos os cantos do mundo.

Quanto à Rússia e à China, cujos regimes buscam desesperadamente um acordo com as potências imperialistas, elas empregam ameaças militares e reacionário nacionalismo para pressionar por um acordo com o imperialismo e defender seu “direito” de explorar a classe trabalhadora em seus próprios países.

O crescimento explosivo nos gastos militares na última década acompanhou a erupção de guerras imperialistas pelo controle de matérias-primas, mercados, reservas de mão de obra e esferas de influência ao redor do mundo. Em 2014, os EUA e a Alemanha orquestraram um golpe de Estado liderado por fascistas em Kiev para derrubar o presidente pró-russo e colocar a Ucrânia sob controle imperialista direto, um processo que provocou a invasão de Moscou em 2022 e a guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia.

Após dez anos, Washington, liderado pelo fascista Trump, está escalando conflitos em múltiplas frentes em um contexto que se desenvolve rapidamente para uma Terceira Guerra Mundial. Além da guerra em andamento destinada a subjugar a Ucrânia, a Rússia e toda a Eurásia aos interesses do capital americano, Washington está se preparando abertamente para a guerra com a China na Ásia-Pacífico para impedir seu crescimento econômico.

O mais recente relatório do SIPRI apontou explicitamente a Estratégia de Defesa Nacional dos EUA de 2022 como um fator impulsionador para aumentos acentuados nos gastos militares nos últimos anos. Esse documento descreveu a China como “o desafio mais abrangente e sério à segurança nacional dos EUA” e foi divulgado apenas duas semanas após a Estratégia de Segurança Nacional do governo Biden, que prometeu derrotar a Rússia e a China na próxima “década decisiva”.

No Oriente Médio, a determinação de Washington em garantir sua hegemonia incontestada sobre a região rica em recursos energéticos levou-o a apoiar o genocídio de Israel contra os palestinos em Gaza. Washington e Berlim forneceram dezenas de bilhões de dólares em armas ao regime sionista, permitindo que expandisse seu ataque sangrento ao Líbano, onde matou e feriu dezenas de milhares, e lançasse ataques ao Irã, o principal alvo regional do imperialismo americano.

Em apenas um mês de uma brutal campanha de bombardeio contra os houthis, alinhados do Irã, no Iêmen, iniciada por Trump em março, os EUA supostamente gastaram US$1 bilhão em munições e recursos militares.

Os imperialistas europeus veem cada vez mais seu antigo aliado americano como um adversário e não pretendem ser marginalizados por Washington na luta pela dominação global. Reconhecendo que a política externa “EUA em primeiro lugar” de Trump significa o fim da relação transatlântica que dominou o período pós-guerra, as potências europeias estão intensificando esforços de rearmamento para que possam travar guerras independentemente dos Estados Unidos.

Esse processo irá intensificar o conflito de classes. Em toda a União Europeia, que recentemente se comprometeu a que seus 27 Estados membros comprometeriam adicionais €800 bilhões em gastos militares, cerca de 93 milhões de pessoas, ou 21% da população, estavam vivendo na pobreza durante 2024.

As oligarquias financeiras que dominam a vida política oficial em cada país imperialista pretendem impor o fardo do militarismo e da guerra sobre os ombros da classe trabalhadora.

Para isso, os governos estão cortando os gastos públicos e todos os serviços sociais, estabelecendo formas de governo ditatoriais para suprimir a oposição popular à guerra imperialista. Os sindicatos estão agitando o chauvinismo nacionalista usado pela classe dominante para mobilizar os trabalhadores para a guerra e promovendo entusiasticamente a conversão da produção civil em produção militar.

O anúncio de Trump de mais aumentos nos gastos militares foi acompanhado por sua incessante pressão para erguer uma ditadura presidencial nos EUA, demitir centenas de milhares de trabalhadores federais e fechar completamente departamentos governamentais.

Na Alemanha, o ressurgimento dos gastos militares em mais de 80% na última década ocorreu enquanto os níveis de pobreza e desigualdade dispararam. A elite dominante reabilitou sistematicamente o fascismo na forma do partido de extrema direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), e os orçamentos para a saúde foram cortados até o osso.

Para garantir seus ambições globais predatórias, os imperialistas querem retroceder a uma brutal e ditatorial ordem social que prevaleceu durante as duas guerras mundiais do século XX.

Em seu famoso discurso de Primeiro de Maio em Berlim em 1916, onde clamou pelo fim da sangrenta matança da Primeira Guerra Mundial, o socialista alemão Karl Liebknecht denunciou com amarga ironia os “três grandes privilégios estatais prussianos” desfrutados pelos cidadãos alemães na época: “Podemos ser soldados, podemos pagar impostos, e podemos manter nossas línguas entre nossos dentes.”

A classe trabalhadora internacional é a força social capaz de interromper o renascimento da guerra imperialista mundial e da ditadura pelas elites dominantes. Ela já está engajada em grandes batalhas de classe, como demonstrado pela crescente oposição a Trump e uma onda de greves em toda a Europa e América do Norte. Os protestos globais contra o genocídio em Gaza expressam a amarga hostilidade de milhões à barbaridade do regime sionista e de seus patrocinadores imperialistas.

A tarefa decisiva é armar os trabalhadores em luta com o programa socialista e internacionalista necessário para se opor ao militarismo e à guerra, assim como ao sistema de lucro capitalista que é a causa raiz deles.

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