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Centenas de milhares protestam contra prisão de İmamoğlu em Istambul enquanto CHP e Erdoğan se acusam de “pró-imperialistas”

Centenas de milhares de pessoas se reuniram no distrito de Maltepe, em Istambul, no sábado para protestar contra a prisão de Ekrem İmamoğlu, prefeito de Istambul e candidato à presidência pelo Partido Republicano do Povo (CHP).

Imagem do ato massivo organizado pelo Partido Republicano do Povo (CHP) em Istambul exigindo “Liberdade para İmamoğlu”, em 29 de março de 2025. [Photo by @herkesicinCHP]

O CHP afirmou que 2,2 milhões de pessoas compareceram ao ato, enquanto a Direção de Segurança alegou que apenas 150 mil estavam presentes.

Em 19 de março, İmamoğlu foi detido sob acusações de “corrupção” e “ajuda ao terrorismo”, e, em 23 de março, ele foi preso e enviado para a prisão com base em alegações de testemunhas anônimas. No mesmo dia, 15,5 milhões de pessoas votaram nas primárias presidenciais do CHP, nas quais İmamoğlu foi o único candidato. Em pesquisas recentes, İmamoğlu estava à frente de Erdoğan, e já se esperava há algum tempo que as crescentes operações policiais mirando opositores políticos estavam se aproximando de İmamoğlu.

A prisão de İmamoğlu desencadeou massivos protestos envolvendo milhões em todo o país. O governo do presidente Recep Tayyip Erdoğan respondeu com uma onda de repressão policial e prisões. Mais de 2 mil pessoas foram detidas e mais de 300 foram presas ilegalmente. Erdoğan também tentou acabar com os boicotes e protestos em massa, especialmente nas universidades, extendendo o feriado de Eid al-Fitr, que termina na quarta-feira.

O Grupo Socialista pela Igualdade (Sosyalist Eşitlik Grubu), a seção turca do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), reitera sua demanda pela liberação de todos os prisioneiros políticos. As massas de trabalhadores e jovens devem se mobilizar de forma independente para defender os direitos democráticos e levar a luta adiante. Isso requer lutar pela perspectiva revolucionária apresentada pelo SEG e CIQI.

O líder do CHP, Özgür Özel, anunciou em seu discurso em Maltepe que irá lançar uma petição exigindo a liberação de İmamoğlu e eleições antecipadas. Embora Özel insista que irão continuar sua luta “nas ruas”, ele busca controlar o movimento de massas que irrompeu espontaneamente no início, direcionando-o para as próximas eleições.

Özel ampliou a campanha de boicote contra vários meios de comunicação e empresas que ignoraram ou se opuseram aos protestos. Ele também afirmou que a testemunha secreta que desempenhou um papel crucial na prisão de İmamoğlu possui 55 registros criminais. “O homem que costumava receber um trabalho do AKP [Partido da Justiça e Desenvolvimento] e agora está caluniando o prefeito Ekrem tem mais de 100 crimes. Não vamos permitir que você tente difamar o prefeito Ekrem inventando testemunhas de estupradores e assediadores”, disse ele.

Em sua mensagem para o Eid al-Fitr, que começou no domingo, Erdoğan insinuou que as operações mirando o CHP continuariam: “Eles [İmamoğlu e CHP] cercaram os municípios como um polvo. Estão tentando encobrir o terror e o roubo nas ruas. Estamos acompanhando as investigações sobre terrorismo e corrupção. Vemos até onde se estendem os braços da organização criminosa. O terror nas ruas é uma tentativa de encobrir o roubo. Claro, à medida que a investigação avança e se aprofunda, a extensão dos braços da organização criminosa que cerca as comunidades como um polvo será revelada.”

Em resposta à acusação de Erdoğan de que ele estava “se queixando da Turquia para o mundo,” Özel disse: “Quando a democracia é ameaçada em um país, quando aqueles que são eleitos não saem com eleições, quando há um golpe, o mundo se interessa por isso”. Ao trazer à tona questões históricas significativas, Özel declarou: “Você é a continuação política daqueles que assinaram [o Tratado de] Sèvres, mas nós estamos no caminho daqueles que rasgaram Sèvres e fizeram Lausanne.”

Tratado de Sèvres e suas zonas de influência.

O Tratado de Sèvres, assinado em 1920 após a Primeira Guerra Mundial, dividiu os territórios otomanos, incluindo a Turquia moderna, entre Reino Unido, França, Itália, Grécia e Armênia. O tratado foi aceito pelo governo otomano em Istambul, mas rejeitado pela rebelde Grande Assembleia Nacional e pelo movimento nacionalista turco liderado por Mustafa Kemal (Atatürk) em Ancara. Como resultado da Guerra de Libertação Nacional travada com o apoio da jovem República Soviética liderada por Vladimir Lenin e Leon Trotsky, a ocupação da Turquia por tropas ou milícias britânicas, francesas, italianas, gregas e armênias terminou, o Tratado de Lausanne foi assinado e uma república foi proclamada em 1923.

Após a entrevista de Özel à BBC, Erdoğan disse: “O líder do CHP está implorando por ajuda a uma organização de mídia estrangeira que perdeu credibilidade devido à sua cobertura hipócrita do genocídio em Gaza”, acrescentando: “Vimos que eles perderam o controle a ponto de implorar ao Ocidente,” e argumentou que o CHP está exigindo um “mandato político”. Isso se referia àqueles que defenderam um mandato britânico ou dos EUA ao final da Primeira Guerra Mundial.

Em sua conta no X, Erdoğan perguntou: “É apropriado que o líder do principal partido de oposição se queixe de seu país e peça ajuda ao Ocidente? … Pode um político desse tipo defender os interesses de seu país contra os imperialistas? Alguém que implora por ajuda nas telas [TV] pode ficar de pé contra os imperialistas?”

Na entrevista, Özel lamentou a falta de oposição ao regime de Erdoğan por parte de seu aliado britânico, o primeiro-ministro do Partido Trabalhista Sir Keir Starmer, afirmando: “Nós nos sentimos abandonados… Que tipo de amizade é essa, que tipo de partido irmão é esse? Como podemos defender a democracia juntos?”

Na Turquia, onde a esmagadora maioria da população se opõe à OTAN e suas guerras e planos de guerra nas regiões, Erdoğan, que lidera o AKP islâmico no poder desde 2002, e Özel, o líder do CHP kemalista, acusam-se mutuamente de serem pró-imperialistas, enquanto, na realidade, a acusação se aplica a ambos os partidos burgueses.

Calculando que não haveria uma grande reação do governo Trump nos Estados Unidos ou de seus aliados na Europa, Erdoğan decidiu liquidar seu principal rival político, İmamoğlu. O fato de que seus aliados imperialistas veem a Turquia como um parceiro crítico em seus planos predatórios no Oriente Médio e na Ucrânia desempenhou um papel importante. Trump, que ameaçou “bombardear o Irã”, vê o apoio de Erdoğan como crucial em uma possível guerra com o Irã. Mesmo enquanto Erdoğan critica o genocídio em Gaza e declara seu apoio ao Hamas, ele continua fornecendo petróleo e outros materiais críticos à máquina de guerra de Israel.

As alegações de “anti-imperialismo” do líder do CHP, Özel – que enfatizou em entrevistas à CNN e à BBC durante os protestos que eles são mais um “partido da OTAN” do que Erdoğan – também são infundadas. Tanto o AKP quanto o CHP votaram a favor da expansão da OTAN contra a Rússia ao admitir a Finlândia e a Suécia como novos membros e são aliados do imperialismo dos EUA e da Europa, que apoiam o genocídio em Gaza por todos os meios.

O caráter pró-imperialista desses partidos é a expressão política dos laços arraigados da burguesia turca que ambos representam com o imperialismo e sua hostilidade à classe trabalhadora. Uma política anti-imperialista coerente só pode ser avançada a partir de uma perspectiva socialista internacional baseada na classe trabalhadora, contra a OTAN e o sionismo e contra “sua” classe dominante e todos os seus partidos. Esse é também o único caminho a seguir na luta pela democracia contra o regime ditatorial de Erdoğan.

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